Alguns entendem que o Advogado Criminalista seja uma pessoa que banaliza a violência. Porém, quem está banalizando a violência no Brasil não é o Advogado Criminal, mas toda a sociedade como um todo, e eu vou lhe provar isso nas próximas linhas a seguir.
O fato é que os crimes se tornaram rotina no Brasil e os seus habitantes acostumaram-se com a ideia de que eles são inevitáveis como a poluição, o trânsito caótico e a falta de água.
Terrível afirmação, não é mesmo? Mas prova disso é que a cada um de nós é constantemente mais difícil citar e recordar qual o crime gravíssimo foi praticado ontem, na última semana ou no mês passado. O que nos agride é aquele crime bárbaro do qual tomamos conhecimento há apenas alguns minutos. E é aí que se encontra a banalização
da violência e a dramatização do crime, onde somos espectadores apáticos e distantes do palco feroz de um segmento marginal cada dia crescente em todas as cidades do Brasil, prontos para assistir ao próximo capítulo criminal nos telejornais, sem qualquer remorso ou empatia, mesmo que inconscientemente. Isso é a banalização da violência e a dramatização do crime!
A banalização da violência e a dramatização do crime têm contribuído de maneira decisiva para que o poder de reação das pessoas e do Estado ineficiente – que só faz ouvir os discursos fáceis a propósito da política de segurança pública -, seja cada vez menor.
Depois que temos conhecimento de um crime pela TV, passados alguns minutos de indignação verdadeira, eu lhe pergunto: quantas pessoas deixam de lado seu jantar ou seus afazeres para refletir sobre o ato de violência brutal que acabou de assistir na televisão? Sem medo de qualquer equívoco, posso afirmar que o percentual é absolutamente irrisório, porque a violência já se tornou “normal de se assistir”, não é mesmo?
Somos todos hipócritas, essa é a verdade, tratamos a violência como acontecimentos
banais e ela está cada vez mais sendo naturalizada pela mídia, que, com seu poder, acaba colaborando para a apologia da mesma, entre outros fatores, sem generalizar, é claro.
Absolutamente nada nos sensibiliza de modo convincente, mesmo que de forma inconscientemente, repito, o que provoca um distanciamento, construindo-se, então, uma barreira que evita qualquer reação moral exigível de cada cidadão individualmente ou grupo social coletivamente. Apenas aqueles que são atingidos pessoal e dolorosamente pelos atos de violência é que se reúnem em ONGs, etc., apelando e gritando pela paz. Gritos estes que são ouvidos por pouco tempo e olimpicamente desprezados pelos administradores públicos, responsáveis pela política e efetivação da segurança pública.
A consequência da nossa falta de sensibilização e de reação acaba atrasando a reação
do Poder Público, que prefere apostar todas as suas políticas na ideia de que “amanhã ninguém se lembrará de coisa alguma”, “o povo esquece rápido”…
A banalização da violência está diretamente ligada à ineficiência do Estado em prover ao cidadão a segurança pública, como lhe é dever institucional, de acordo com o art. 144, da Constituição Federal de 1988 (CF/88).
Compete ao Estado, através dos seus órgãos de governo, assegurar níveis aceitáveis de segurança pública a todos os seus cidadãos, devendo para isso ter uma administração da justiça equitativa e eficiente. E essa obrigação não é apenas de regular a vida em sociedade, mas também de promover o bem-estar geral a todos.
A percepção do cidadão comum é a preocupação com o crescimento da criminalidade, mas fica muito mais preocupado ao perceber que existe impunidade e que alguns responsáveis pela questão da segurança pública se misturam aos criminosos, não só os protegem, mas também chegam a fazer parte de gangues criminosas reais.
O mais aterrorizante é que a inércia do Poder Público não é apenas ineficiência, mas
omissão CONSCIENTE no interesse inconfessável de manter a violência latente para encobrir a ineficiência em outras áreas, como saúde, educação, transporte, etc., enquanto a nossa inércia de cidadão, na maior parte das vezes, é INCONSCIENTE.
Para degredar a criminalidade e a violência, impõe-se exigir do Estado que aja com eficiência, e, para isso, todos têm de “acordar”, “tirar a cara” da TV, parar de julgar os outros e de apontar culpados. Todos têm de sair dos bastidores e agir como protagonistas da situação atual no qual estamos vivendo. Todos somos responsáveis e devemos cobrar do Estado nossas garantias constitucionais!
O quadro de pessimismo que vivemos em face do crescimento da criminalidade
violenta, apenas poderá ser esmaecido com ações conjuntas da sociedade agindo como grupo de pressão a exigir posicionamento firme e adequado do Poder Público quanto a políticas de segurança pública, bem como do Estado, que por sua vez deve abandonar seu discurso de dramatização da violência, no qual se apresenta como vítima, e assumir de vez o seu papel de agente eficaz no combate ao crime.
Além da deficiência do Estado, estamos vivenciando uma desestruturação familiar,
perda de valores morais, legislação frouxa, consumismo exacerbado, circulação de armas em grande quantidade em virtude de uma fiscalização falha na fronteira, ideia difundida de impunidade, morosidade da justiça e o aumento do consumo de drogas, em especial
do crack.
O justo não é “apontar o dedo” para um profissional do Direito Criminal, mas
entender que todos somos responsáveis pela banalização da violência e a dramatização do crime no Brasil, principalmente o Estado, que tem obrigação constitucional de nos
proteger!
Enfim, deixo essa reflexão. O que pensa a respeito? Deixe seu comentário!
Veja muito mais na minha página do Facebook: @DraBeatricee.
Artigo originalmente publicado em: https://censurazero.com.br/direito-em-suas-maos-a-banalizacao-da-violencia-e-a-dramatizacao-do-crime-no-brasil/
*DRª BEATRICEE KARLA LOPES é Advogada Criminalista – OAB/ES 15.171; pós-graduada em Penal, Processo Penal e Civil; Escritora de Artigos Jurídicos; Membro Imortal da Academia de Letras da Serra-ES; Comendadora Cultural e Membro Imortal da Academia de Letras de São Mateus-ES; Comendadora Cultural da ONG Amigos da Educação e do Clube dos Trovadores Capixabas; Personalidade Cultural de 2017 do 3º Encontro Nacional da Sociedade de Cultura Latina do Brasil; Personalidade Artística e Cultural 2018; e colunista do Portal Censura Zero – www.censurazero.com.br.
Contato: tel.: (27) 9.9504-4747 | e-mail: beatriceekarla@hotmail.com | site: beatriceeadv.wixsite.com/biak | Facebook: Beatricee Karla Lopes | Instagram:
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